terça-feira, 30 de novembro de 2010

Perfil Jum Nakao

Estilista fala sobre moda, arte e cultura

O estilista brasileiro Jum Nakao, neto de japoneses, cria suas coleções pensando em uma maneira de sempre fazer o público interagir com seu trabalho. Polêmico, chama atenção com sua criatividade. A coleção ‘A costura do invisível’, talvez a mais marcante de sua carreira, está exposta no Museu da Moda, em Paris, e é considerado o “desfile do século”. Jum já assinou coleções para marcas como Zoomp, Nike, a catarinense Guga Kuerten e agora cria para a grife Oxto.
O estilista esteve em Belo Horizonte em agosto do ano passado ministrando um workshop para estudantes de moda da Universidade Fumec, no Shopping Pátio Savassi. Durante os diasde duração do workshop foram realizadas várias conversas com os estudantes.

 Como é a relação da moda com a arte nos seus trabalhos?
Jum – Eu acho que a moda, a roupa, é um suporte, é uma mídia, uma ferramenta para você expressar e embutir seus conceitos. Você pode fazer cinema com conceito, novela com conceito, moda com conceito, gastronomia com conceito, tudo que você imaginar. Então para mim, a moda, como as artes plásticas, como qualquer trabalho que eu já realizei, é antecedida por um pensamento. Você não sai falando aquilo que você não pensa, não sai criando aquilo que você não deseja e não tem vontade de materializar. Você tem que estar fazendo da materialidade uma idéia, um princípio. E agora em abril, eu mais o Julinho Dojcsar, que é cenógrafo, e o Kiko Araújo, que é um cineasta, estamos fazendo uma grande instalação, a exposição “Conflitos e Caminhos”, uma grande obra no museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. É uma obra que vai ficar três meses e foi realizada a convite da primeira dama do estado do Paraná, Maristela Requião. Trata-se de um espaço que vai render uma homenagem e uma retrospectiva da minha carreira, e eu decidi junto com esses dois amigos realizar um novo trabalho. É um projeto extremamente impactante, polêmico, que envolve as mesmas ferramentas usadas no meu trabalho de passarela, agora feito no museu.

Você tem trabalhos expostos no Museu da Moda, em Paris. Qual o significado disso pra você?
Jum – O último trabalho autoral que eu fiz, o desfile de papel (2004) faz parte do acervo do Musée Galliera, o Museu da Moda, em Paris, e é considerado o maior desfile do século. Fora isso eu tenho trabalhos no museu do Século XXI, para você perceber que as fronteiras hoje são muito tênues. Não existe aquela definição, isso é arte, isso não é arte, isso é cinema isso não é cinema. Eu acho que essa rotulação, esse questionamento, esse desejo de tornar hermético apenas confina e atrapalha a potencialidade das artes.

 Qual sua opinião sobre a moda mineira?
Jum – Eu conheço no mercado o trabalho de algumas marcas e estilistas, como Ronaldo Fraga, Graça Ottoni, Coven e as indústrias maiores aqui do estado. Eu acho que o nível mostra um crescimento. Eu vejo que a cada evento, como o Minas Trend, o mercado, a cultura de moda, vai criando raízes e se solidificando. Eu acho que tudo é um processo, não tem como você falar sem analisar, sem ter uma visão histórica de quanto tempo isso está acontecendo aqui. E a gente pode dizer que está numa cidade que vai depender exclusivamente, nesse momento, da ética, da seriedade dos profissionais, da imprensa, das escolas, de todas as pessoas que trabalham no segmento fashion, para que realmente a moda mineira ganhe seu espaço.

Qual foi à ideia que você quis passar fazendo os modelos masculinos desfilarem de costas na apresentação da Oxto?
Jum – A forma de apresentação está muito ligada ao conceito da marca Oxto. Quando as pessoas forem assistir ao desfile em vídeo, e passarem ele de trás pra frente, vão achar que as mulheres é que estão desfilando de costas. Então você vai ter o mesmo desfile, a mesma inquietação, porque olhando pra frente ou olhando pra trás, alguém vai estar de costas. Isso mostra então, que você pode enxergar o desfile em vários ângulos, não existe um sentido único. O conceito que a Oxto, que a marca traz é que não existe um único caminho, as pessoas têm que encontrar o seu caminho. E a coleção da marca propicia exatamente essa possibilidade. Ao visitar uma loja, conhecer as peças da grife, vai perceber que ela é uma coleção onde não existe a ditadura da tendência. Então você cria seu estilo. Onde nós criamos uma mistura que envolve desde esportes, cultura de esporte e cultura da música, com jeanswear, com o espírito vintage, as roupas recicladas, roupas militares, roupas urbanas, tem o ranço bélico. Enfim, é um trabalho que foi imaginado para que as pessoas perguntassem exatamente o que você me perguntou.

E quando é que vamos ver novamente uma coleção com o seu nome, com a sua cara?
Jum – Hoje eu faço consultoria pra Oxto. Assino a linha de jeans da marca, e na próxima estação eu faço a coordenação de toda a coleção. Faço assessoria para algumas empresas também da área. Estou fazendo dois filmes agora, um para TV, uma minissérie e um para cinema, direção de arte. E fora isso, por enquanto, vou continuar ministrando também aula para o curso de Arte e Moda (seminário da pós-graduação em Design de Moda) e faço direção de criação da coleção Faap Moda Brasil.
Alunos da Fumec e Jun Nakao
Fotos: Arcervo - Thatyane MARY


Um comentário:

  1. Gostei demaissss do post do Jum Nakao. To te seguindo vem me ver tbm.
    abços
    www.mariamariapretaporter.blogspot.com

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