Por
Katiusca Demetino, Pamela Moraes e Thaís Moreira
Verão de 1996/97,
a moda sai da casa de uma família e toma conta das passarelas
através das criações do estilista Ronaldo Fraga. Inspirado nos
textos teatrais de Nelson Rodrigues, ele trouxe para o âmbito da
moda a saga familiar de dois personagens imaginários. A coleção
recebeu o nome de “Álbum de Família”.
De um lado o teatro,
do outro a moda. Com personagens fictícios, Ronaldo juntou duas
artes em uma só. Com figurinos ousados, maquiagem teatral, penteados
exuberantes e os modelos desfilando como se estivessem em uma peça,
o estilista trouxe o palco para a passarela.
Numa pesquisa feita nas ruas de Ouro Preto e Mariana, Minas Gerais, foi apresentado o álbum às pessoas de todas as idades. O objetivo era
ver a reação delas diante de uma moda que causou ‘frison’
no mundo fashion
na década de 90 e o que as imagens remetiam a elas. Foi explicado o
contexto de Nelson Rodrigues e o teatro inseridos no desfile que
serviu de inspiração para o estilista nessa coleção. O verão de 1996 foi transportado para os dias atuais. Foi pedida a opinião
das pessoas para saber se usariam as roupas apresentadas.
Gustavo Bueno é um
estudante de 16 anos, e quando abordado questionou a roupa usada pelo
modelo. Disse que não usaria, “a não ser que fosse para dormir”,
relatou o adolescente. Ele comparou a camisa do modelo com uma camisa
de futebol, e que segundo ele está fora dos padrões usados pelos
times atuais. Sobre a calça alaranjada ele disse que
usaria para ficar em casa, “pois parece ser confortável”,
finaliza o jovem.
Para
a aposentada Maria Antônia Francisquini, 79 anos, a moda não é um
fato essencial em sua vida cotidiana. Ela considera as roupas da
coleção fora da sua realidade: “Tem
que ser confortável e pronto, se tá na moda ou não aí já não é
comigo.”
Ela também destaca a diferença entre o tipo de moda da sua época e
a apresentada no desfile, segundo Maria Antônia na sua juventude o
tipo de roupa apresentada na coleção não chegou ao seu
conhecimento como referência de moda. A entrevistada encarou o
desfile com estranhamento, afirmando inclusive que a expressão das
modelos lhe causou medo: “Essas
perucas esquisitas. Gosto de gente normal, esse povo tá muito
estranho.” Para
ela, a coleção é muito parecida com as roupas usadas atualmente:
“é
tudo a mesma coisa, roupa no meu pensamento é calça, blusa,
vestido, saia e pronto”.
A
entrevistada Vânia Mares Guia é uma bancária de 46 anos e ao
analisar a coleção de Ronaldo Fraga não teve nenhuma
identificação. Ela achou o tipo de moda apresentada no desfile
destinada a pessoas com idade mais avançada: “achei
um pouco senhoril.”
Comparando com as roupas utilizadas atualmente ela percebeu os
modelos um pouco antiquados, destacando ainda que ficariam melhor se
fossem vestidos por sua mãe. Mesmo que não seja muito ligada à
moda, Vânia achou o desfile diferente dos que geralmente são vistos
por aí: “Achei
uma coisa mais caricata, mais teatral e realmente me lembram os
componentes de uma família, mas não muito comum.”
Sua impressão sobre a coleção também foi de certo estranhamento. Para ela os desfiles de moda deveriam levar um outro toque. “Se
fosse eu a estilista ia querer uma coisa mais glamurosa e não
assustadora como me pareceu em algumas fotos”, explica a bancária.
Dezessete
anos depois, o desfile ainda causa um certo espanto nas pessoas.
Tanto pela forma caricata nas passarelas, quanto pela intensificação
dos modelos utilizados para representar a família. Observou-se nos
entrevistados um certo distanciamento do mundo da moda. Por mais que
as pessoas utilizem as tendências em seu dia-a-dia, ainda mantêm-se um abismo entre sua realidade e a do desfile, o que se evidencia quando são apresentadas às pessoas as formas cruas das coleções.
A forma teatral com que Ronaldo levou suas criações às passarelas não agradou a todos os entrevistados, seja pela sua realidade social prática ou pelas formas que as roupas são apresentadas no desfile. Ele utilizou de uma maneira despojada para referenciar a família da época, mas fugindo dos padrões de uma família comum. Normalmente os estilistas usam aspectos despojados e até mesmo exagerados para retratarem suas coleções. É esse o lado da arte que se entrelaça a moda nas passarelas. O momento do desfile é como uma peça de teatro e os modelos, personagens de seus estilistas. Ronaldo desafiou o senso comum ao destacar sua concepção de arte, moda e família.
A forma teatral com que Ronaldo levou suas criações às passarelas não agradou a todos os entrevistados, seja pela sua realidade social prática ou pelas formas que as roupas são apresentadas no desfile. Ele utilizou de uma maneira despojada para referenciar a família da época, mas fugindo dos padrões de uma família comum. Normalmente os estilistas usam aspectos despojados e até mesmo exagerados para retratarem suas coleções. É esse o lado da arte que se entrelaça a moda nas passarelas. O momento do desfile é como uma peça de teatro e os modelos, personagens de seus estilistas. Ronaldo desafiou o senso comum ao destacar sua concepção de arte, moda e família.
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