quinta-feira, 15 de agosto de 2013

As vitrines de Mariana



por Jackie Mandarino

Moro em Mariana praticamente desde que nasci e quando comecei a escolher minhas roupas, notei que era diferente das minhas amigas. Desde pequena mostrava uma tendência a gostar de coisas fora do padrão, principalmente do padrão de uma cidade de interior e extremamente envolta a uma religiosidade. Nessa época ainda não tinha maturidade para entender de onde vinha esse meu gosto peculiar por moda. Hoje em dia, aos 35 anos, tenho alguns palpites, e o principal motivo estaria situado no fato de sempre achar que nesse mundo temos que fazer a diferença. Nunca me importei com o que falavam de mim. E falavam muito...

Lembro que não achava em Mariana as coisas que queria comprar. Muitas eu mesma tinha que fazer com a ajuda da minha mãe que nunca podou o meu jeito de se vestir. Pelo contrário. Até hoje apoia o que tenho de diferente das outras pessoas em termos de “moda”. 

A medida que fui me tornando uma pessoa mais crítica e antenada com um mercado que para muitos é tido apenas como um comércio fútil, percebi que Mariana, vista pelas vitrines de suas boutiques e lojas de roupa ainda carregava na moda características provincianas. 

Atualmente trabalho numa boutique e o que antes era apenas um exercício de observação para construir uma visão sobre como as pessoas da cidade se vestem e o que elas querem refletir, tornou-se ócio do ofício. Agora me pego olhando indiscretamente para as pessoas e fico pensando se podem ser minhas futuras clientes.

Fato é que para mim, a moda antes de tudo é criação e inspiração. Ela pode ser uma forma de expressão de como você encara a vida. Tenho uma cliente bem interessante nesse aspecto. Gosto de vender para ela. Não apenas pela comissão, que é bem vinda, mas, porque ela tem bom gosto e discernimento. Não é controlada por um mercado cada vez mais recheado de modismos e conceitos totalmente fora de moda. Essa moça, coisa rara entre minha clientela, reflete através da sua moda, como encara e leva sua vida. Isso me dá prazer. Saber que existe gente que usa seu direito de escolha, sem ser absorvida por falsos padrões e conceitos. Ver que nessa cidade carregada de reflexos provincianos e de pessoas que refletem através das suas roupas uma visão curta do mundo e suas possibilidades, ainda existe gente que não acompanha o que o mundo impõe como padrão. E não pensem que o que essa cliente veste seja meu estilo. Não mesmo. Sou muito exagerada para os padrões dela. No entanto, somos afinadas no sentido de não permitimos que a moda nos engula. Muito mais que consumir um produto consumimos um estilo de vida. 

Mariana com seu jeitão antigo reflete, através de seus casarões e igrejas barrocas, muito mais particularidades e estilo que as vitrines de roupa e seus moradores. 

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