quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Descaso confortável


Por Iago Rezende

Em cidades lentas, a modernização é gradual. Mariana é lugar que agrega o contemporâneo ao barroco e a atualidade resgata constantemente a tradição. A vestimenta não se difere. Hospedeira de turistas e estudantes, a volatilidade dificulta a compreensão das roupas.
Buscando sempre a praticidade, poucas roupas fazem o perfil do boné bege que, desavisado do calor repentino, preocupa em não manchar a camiseta branca com um sorvete de creme na Praça da Sé. De frente para a Igreja, imagina o trajeto a ser feito com o Nike vermelho confortável e os shorts youngsters de alguém que veio de outro hemisfério.
Passam por ele jeans alternando cores e tecidos. Calças de tons variados fazem fila para chegar ao banco enquanto uniformes azuis descem apressados.  A velocidade está diretamente relacionada ao descaso.
Laranjas berrantes ocupam as ruas laterais. A cor serve pra identificação e, por vezes, afastamento. O trabalho de recolher a embalagem do picolé do desavisado não se prolongou e em poucos minutos, acabou. Retornam os simples, sobem sandálias que visitam Havaianas e descem com bermudas desenhadas e camisas de marcas falsificadas.
Na praça desfilaram famintos, modernos e atrasados numa terça-feira quente, considerando o inverno. Longe da alta costura, os objetos aderidos relacionaram praticidade e conforto em uma esfera onde o julgamento social tem outros preceitos. O manto da invisibilidade pode, por vezes, ser básico e sem estampas. Porque destacar-se significa, também, perder tempo.

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