Por Ana Rafaela Silva, Gisela Cardoso e Thais Corrêa
Imagine você se
deparando com homens e mulheres influenciados pela moda dos anos
1940, em clima de boemia e com manchas de batom pelos seus rostos. O
que você acharia disso? Talvez pudessem ter tido uma boa noitada. O
estilista brasileiro Ronaldo Fraga quis explorar a sensualidade
brasileira, apresentando-a de outra forma, diferente de “praias
do Rio de Janeiro, do Carnaval na Sapucaí, do futebol e da Amazônia”
e
focou sua coleção de inverno, de 2004, nas noites amorosas, que
originou “Quantas noites não durmo – crônica para Lupicínio
Rodrigues”.
Ao som das
músicas de “dor-de-cotovelo” de Lupicínio Rodrigues, a coleção
trouxe o glamour decadente dos anos 1930 e 40 por meio de vestidos
e saias evasê, calças risca-de-giz, blazers com grandes flores
brocadas, gravatas desamarradas, algodão colorido da Paraíba,
sapatos com brilho e estampas de Viagra, usando das cores da “pílula
do amor”, azul e dourado.
Em uma pesquisa realizada na cidade de Mariana, Minas Gerais,
as fotos do desfile foram mostradas para várias pessoas de ambos os
sexos e diferentes idades. Primeiramente, as fotos foram expostas sem
nenhuma explicação. Em seguida, o contexto e significado das
imagens foram esclarecidos. A análise teve como fim observar a
reação dos entrevistados em relação a este tipo de moda, de
acordo com as suas opiniões do antes e depois da legenda.
O
comerciante Renato Andrade, 41, não aprovou o cabelo e a maquiagem,
mas alegou que, hoje em dia, há mulheres que vestem roupas que
lembram um pouco os detalhes dos bordados e decotes. Após a
explicação da intenção do estilista, Renato afirmou que foi
ousado em juntar todos os elementos para passar a ideia da noitada e
do sexo.
Já
a estudante Jéssica Silva, 18, à primeira vista e sem saber o
contexto, achou que era apenas uma maquiagem borrada e roupas com
características antigas. Após explicar a proposta do designer, ela
entendeu do que se tratava a maquiagem, que remete a uma noite de
amor, e as roupas com características antigas das décadas passadas.
Os
relatos mencionados são alguns exemplos das opiniões obtidas pela
pesquisa. Em suma, todos tiveram uma surpresa quando notaram a
maquiagem borrada e cabelos desarrumados. Imediatamente, alguns
chegaram à conclusão de que aquilo estava relacionado ao sexo. Em
relação às roupas, alguns dos entrevistados reconheceram a
influência do século passado, mas não tiveram total aprovação
para o uso (principalmente os homens e mulheres jovens).
Assim
que foi esclarecido o significado da coleção, houve opiniões
diversas: algumas permaneceram intactas – de ambos os sexos e
idades – e outras foram modificadas. Após a explicação, a
coleção de Ronaldo Fraga ganhou mais sentido, e quem não tinha
aprovado anteriormente, passou a concordar com a proposta do estilista. Alguns dos entrevistados, principalmente os
homens e mulheres mais velhos, acharam extravagante o tema da coleção. Em relação ao vestuário, algumas mulheres jovens
aprovaram e outras não, assim como os rapazes.
Em primeira
vista, a moda está sujeita aos critérios do senso comum, de acordo com as
opiniões dos variados sexos, idades e até mesmo profissões. Para muitas pessoas, a moda se resume em apenas roupas usadas. Com isso, é preciso um olhar mais profundo,
e também dotado de senso crítico, para que a mensagem por trás da
moda seja compreendida, e os objetivos dos estilistas, como o Ronaldo
Fraga, sejam, enfim, alcançados.
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