sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crônica: Reflexos invertidos


Marília Ferreira, Edmar Borges e Gabriel Campbell
 
Rua Direita, famosa, bonita, histórica, movimentada. Mariana guarda muita história, Minas Gerais tem esse poder, assim, cheio de pessoas tão diferentes. Engana-se quem pensa a imagem da Direita homogênea. Pessoas indo e vindo num cenário que as cabe. Não é bem assim! Se lançar um olhar raso talvez pareça tudo igual e natural. Mas perceba: há algo que impera nas laterais da rua. Verdadeiras senhoras de poder, pois ganham tanta atenção e conseguem tantas olhadas sonhadoras. São elas, as vitrines da Direita!
Quanto custa? É Isso mesmo?”, pensa aquele que passa calçando seus chinelos tortos que devem ter anos de idade. A outra moça, toda bela e perfumada, analisa a saia na manequim. Deve imaginar o quão bem ficaria nela, talvez para essa donzela a vitrine signifique algo real.
Mas olhe bem, esses trabalhadores que passam não querem prestar atenção nas vitrines luxuosas, no máximo espiam as lojas mais brandas de luxo, essas que tem a porta aberta e logo se vê o interior todo (aí existe outro contraste, as vitrines impecáveis versus as simplórias, só com balcão e uns sapatos à mostra). Nada de segredos subterrâneos, estes homens comuns não têm o poder de descer as escadas, entrar nas lojas subterrâneas e investir o salário todo numa peça de roupa, bonitas sim, porém apenas sonho. Só lhes restam ignorar as vitrines.
O reflexo do luxo é discreto, não se vê. “Eles têm clientes?”, ironizam os estudantes que contam moedas enquanto passeiam pela rua. O reflexo do luxo é a elegância das cores amenas, combinadas ao brilho de umas joias ou as cores vibrantes dos esmaltes. Mas, o reflexo do real é invertido. Aquele que passa na rua, cidadão comum no seu mais duro sentido, não vive o brilho do encantamento das roupas traduzido em presença no armário do quarto. Não é defeito das vitrines serem tão belas, não é culpa dos homens serem imagens destoantes delas. A vida da Direita é assim, e por muito tempo ainda será.

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