segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Rebanho da Moda

por Daiane Aparecida e Renatta de Castro


Estilista por susto, sem ninguém relacionado à moda na família, se tornou o símbolo que é hoje pelo simples fato de saber desenhar. Claro que é de Ronaldo Fraga que se trata esta descrição. Formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também estudou em Nova York e Londres para aperfeiçoar sua carreira. Destaca-se por ser um dos estilistas brasileiros que se preocupa em valorizar a cultura brasileira e ter a crítica presente em sua moda. É claro que a coleção Cordeiro de Deus, do verão 2002-2003, não falhou nestas características, e a reação que essa coleção causa nas mais diversas pessoas é o tema dessa reportagem. 

Desfile da Coleção Cordeiro de Deus.
Baseada em uma carta fictícia de um detento a sua amada que jamais o visita, a coleção traz bordados criados em um workshop dado por Fraga para presidiários da Penitenciária José Maria Alckmin. As roupas foram inspiradas em um domingo de visita e as estampas, em grafites de tatuagens do universo carcerário. 

Para a elaboração deste texto, foram entrevistadas duas pessoas sem envolvimento com o mundo da moda. A entrevista continha duas partes. Primeiro as entrevistadas viram somente as roupas sem saber sobre o que se tratava a coleção e deram a sua opinião. Logo depois souberam a história por trás das peças, e foram perguntadas se a opinião original havia mudado.

A primeira entrevistada foi Lara Gava, que é estudante de Letras e possui interesse em moda, mesmo não tendo ligação com esta. Logo de cara, ela nos disse que teve a impressão que o estilista queria lançar uma tendência usando listras e formas geométricas. Lara disse ainda que: “A coleção me traz uma sensação de suavidade devido aos tons pastéis. Em algumas ele realmente quer causar uma impressão. As roupas são leves e despojadas. Ronaldo Fraga deve estar querendo mostrar que se pode ser despojado e chique ao mesmo tempo”.

A outra entrevistada, Heila Dias, estudante de Química e leiga no mundo da moda disse considerar as roupas esquisitas, porém bonitas de uma forma diferente. Ao ser perguntada sobre o que se tratava a coleção, ela simplesmente respondeu: “liberdade”. 

Desfile da Coleção Cordeiro de Deus
Após essa primeira entrevista, foi explicado o contexto e a inspiração para a coleção e foi feita uma segunda entrevista para recolher suas opiniões. “Minha opinião permanece a mesma, quando eu vi a roupa masculina azul, percebi a semelhança com roupas de presidiários. Então falei sobre liberdade, achei que o estilista queria demonstrar um paradoxo”, afirma a estudante. Lara apenas foi sucinta e disse que ao conhecer o contexto da coleção, essa fazia mais sentido.

Analisando as entrevistas e comparando com os perfis das entrevistadas e suas relações com a moda, percebemos como Ronaldo Fraga consegue expor bem sua crítica e o que tem de intenção em sua coleção. Mesmo sem conhecimento em moda as entrevistadas conseguiram captar algumas ideias da sua coleção, antes mesmo de saber o contexto desta. Fica claro que a moda nem sempre é pra poucos, e que a elitização dela não acontece com todos os estilistas.



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