sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crônica: "Trem" fora da moda



Por Kênia Marcília e Viviane Ferreira


Incomoda a contradição entre barulho e silêncio em uma estação ferroviária, o barulho da engrenagem e o silêncio da nostalgia, o barulho do apito que anuncia a partida ou o silêncio de quem fica a acenar em despedida, de quem passa pela estação a olhar ou escutar sem muito interesse aquele trem. Trem é o nome que damos quando não sabemos o nome de alguma coisa, contradições novamente.
Em Mariana, para ser mais detalhista, na estação ferroviária, em um primeiro olhar temos a impressão de que o tempo não passou, permanece aquele glamour, romantismo do auge, estrelato das máquinas ferroviárias. Mas daí sinto uma trombada como se o tempo me cutucasse para que eu olhasse com mais cuidado, me dizendo: acorda, hoje é meu tempo!
Era um adolescente, com seu boné de aba reta, bermuda jeans dobrada na barra, tênis colorido ( um alaranjado reluzente), colar de prata caído sobre a cava da gola v da camisa customizada de uniforme ( acho que uniformes não são tão cavados assim).
Com um Ipod à mão, conectado à rede, criamos um embate silencioso, ele parecia querer gritar ao mundo que estava antenado com a moda, enquanto a única rede que me interessava era a rede ferroviária. Um adolescente como tantos outros estudantes (igualmente de bonés de abas retas e camisas customizadas) que visitavam a estação para conhecer aquela máquina antiga, “demodé” tão comentada e vista nas aulas de história, livros e Ipods.
Para os mais nostálgicos, assim como eu (pois várias vezes me peguei imaginando ao lado de poetas, escritores com seus ternos de alfaiataria, igualmente brancos, bengala e chapéus, nos vagões a declarem em versos o amor proibido pelas filhas de aristocratas), aquilo soava como ofensivo, a contradição entre os trilhos corroídos e os tênis coloridos feito em grande escala.
Era destoante do que já foi símbolo da modernidade e hoje paira obsoleto, esquecido na antiguidade das lembranças. É o barulho do que clama novamente pelo “estrelato” e o silêncio do coadjuvante em meio aos tênis alaranjados reluzentes e na esperança de quem assim como na moda torna-se novidade e a novidade fica antiga, pois para tantos está na “moda” é está fora do seu tempo ou além dele, mas tudo isso com muito glamour.

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